sábado, 30 de outubro de 2010

Humano ou Perfeito?

Posso dizer que estou claramente acima da média...
Acima da média e da moda, claro está, meus caros!
A mediana fica para todos vocês, seres mais que banais
Seres ignorantes que invejam aros deliciosos da minha vida
E que não são capazes de ler meia dúzia de ideias
Simplesmente inteligentes e bem construídas de seguida!

As vossas demências neuróticas só representam a frustração
Que tanto vos escorre pelas vossas desnaturadas faces abaixo
E um dia como é óbvio eu irei descartar-vos da minha mão
Como quem descarta o duque mais rasca de um baralho de cartas

E já que pensam ter realizado grandes feitos,
Porque é que com os pequenos eu cheguei mais longe?
Quem são vocês realmente senão imitação fraca de alguém direito
E orientado pela genialidade a ser- numa só palavra- bom?

Quem são vocês afinal para lá das vossas finanças
Se tudo o que me mostram parece extremamente vulgar?
Tu, tal como tu o és, és apenas uma rotina que cansa
E que eu um dia irei num acto- ou lição- triunfal descartar!


Seria a coisa mais decente do mundo se eu pensasse
Isto das pessoas que eu considero minhas amigas?
Resposta certa: obviamente não!

E vocês o que pensam dos vossos amigos?
E o que pensam de vocês mesmos?
E de vocês mesmo perante eles?

Paulo Nogueira Ramos
31 de Outubro de 2010

Ao que Fui Perdendo...

É irrelevante...

Sou gordo, desleixado, pseudo e potencial falhado,
No entanto ao criticar o vosso lado positivo
Ponho-vos ofendidos como se ofensas do negativo
Fossem melhores para o ego que tanto vos alimenta!

E eu, feito de dúvidas, de angústias,
De nervos e de laços sentimentais
Encarrego-me de vos tentar compreender
Para lá de todos os heroísmos e fracassos!
Tento analisar-vos como mortais que são
Como eu seria se estivesse nessa mesma situação...

No final de uma jornada de erros amontoados e contados
Lá tenho uma réstia de façanha para a minha felicidade
E ao contar esta a vós, infames seres da minha lealdade
Perco no vosso olhar toda a amizade que de vós esperei
Porque de alguma forma eu, que vos beijei os pés de admiração,
Ameaço com isto o vosso trono de inchaço e presunção...

Não sou feito de armadilhas...
Lá no meio da minha alma admirei a vossa imagem...

Mas agora é irrelevante...
Já fui magoado...

Paulo Nogueira Ramos
31 de Outubro de 2010

"Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo."
- Álvaro de Campos

sábado, 23 de outubro de 2010

Clepsidra Conta-Sabores

Reconheces um sabor à água? E ao mundo?

Ouvir a chuva a cair contigo tem um sabor próprio... tão intenso, tão vivo que dá para pintar quadros com ele! Agridoce como todos os compostos que escrevem a nossa história...

A chuva devia ter sabor agora... não tem!

Ao invés vejo-a a cair consistente, presa à gravidade com todas as suas moléculas suicidas. Com ela cai a minha alma...
E se o Sol voltasse, se o mundo se evaporasse como a água e nada se pudesse interpor entre nós? Tu és o meu mundo e eu sou o teu... deve servir...

Mas não! Não serve, não respiramos, não sofremos, não vivemos sem o sabor que o resto do mundo gosta de nos obrigar a acompanhar. Se o mundo se evaporasse nunca seria criado o sabor de um beijo teu pela saudade, pelo medo dos dias, pela segurança das noites...

Se o mundo fosse água estranhamente não éramos arrastados pela corrente. Morríamos presos ao deserto dos nossos corações...

Minha clepsidra... lembra-te que a tua existência deve-se à água, sem ela não te movias! Graças a ti vejo o meu tempo bem contado, com cada minuto ao teu lado a valer por si...

Até o tempo ganhou sabor com a água... por muitas vezes que me afogue em lágrimas recordarei isto...

Paulo Nogueira Ramos
24 de Outubro de 2010

Contágio por Amor

És feita de ti! Todos os teus tecidos celulares se juntam para formar um todo completo, autónomo e bastante vivo. Onde ficam os meus erros no meio disso? Onde ficam os meus impulsos perdidos, os meus beijos fugidos, todos os momentos escondidos em que chorei por te perder? Onde fica todo este cancro que já te fez bater o coração? Guardo tudo isso no meu ser e amarro-me à esperança que queiras voltar a partilhar esta doença comigo...

...morrer contigo é viver! Morrer sozinho é óbvio!

Paulo Nogueira Ramos
24 de Outubro de 2010